domingo, 3 de janeiro de 2010

Uma Lenda do Polo Norte

Uma lenda do Polo Norte
Postado por Paulo Coelho em 01 de janeiro de 2010 às 01:02

Conta uma lenda esquimó que na aurora do mundo não havia qualquer diferença entre homens e animais: todas as criaturas viviam em harmonia sobre a face da Terra, e cada uma podia transformar-se na outra, a fim de entendê-la melhor. Os homens viravam peixes, os peixes viravam homens, e todos falavam a mesma língua.

“Nesta época”, continua a lenda, “as palavras eram mágicas, e o mundo espiritual distribuía fartamente suas bênçãos. Uma frase dita ao acaso podia ter estranhas consequências; bastava pronunciar um desejo que este se realizava”.

Foi então que todas as criaturas começaram a abusar deste poder. A confusão se instalou, e a sabedoria se perdeu.

“Mas a palavra continua mágica, e a sabedoria ainda concede o dom de fazer milagres a todos que a respeitam”, conclui a lenda.
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sábado, 2 de janeiro de 2010

Fábula: O Burro Juiz

"Disputava a gralha com o sabiá, afirmando que a sua voz valia a dele. Como as outras aves rissem daquela pretensão, a bulhenta matraca de penas, furiosa, disse:Nada de brincadeiras. Isto é uma questão muito séria, que deve ser decidida por um juiz. Canta o sabiá, canto eu, e a sentença do julgador decidirá quem é o melhor artista. Topam?

- Topamos! piaram as aves. Mas quem servirá de juiz?

Estavam a debater este ponto, quando zurrou um burro.- Nem de encomenda! exclamou a gralha. Está lá um juiz de primeiríssima para julgamento de música, pois nenhum animal possui maiores orelhas. Convidê-mo-lo. Aceitou o burro o juizado e veio postar-se no centro da roda.

- Vamos lá, comecem! ordenou ele.

O sabiá deu um pulinho, abriu o bico e cantou. Cantou como só cantam sabiás, garganteando os trinos mais melodiosos e límpidos. Uma pura maravilha, que deixou mergulhado em êxtase o auditório em peso.
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- Agora eu! disse a gralha, dando um passo à frente.E abrindo a bicanca matraqueou uma grita de romper os ouvidos aos próprios surdos.
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Terminada a justa, o meritíssimo juiz deu a sentença:

- Dou ganho de causa à excelentíssima senhora dona Gralha, porque canta muito mais forte que mestre sabiá."

Moral da História: Quem burro nasce, togado ou não, burro morre.