sexta-feira, 28 de março de 2008

Chapeuzinho Vermelho

Era uma vez uma menina chamada Chapeuzinho Vermelho, que tinha esse apelido pois desde pequenina gostava de usar chapéus e capas desta cor.
Um dia, sua mãe pediu:
- Querida, sua avó está doente, por isso preparei aqueles doces, biscoitos, pãezinhos e frutas que estão na cestinha. Você poderia levar à casa dela?
- Claro, mamãe. A casa da vovó é bem pertinho!
- Mas, tome muito cuidado. Não converse com estranhos, não diga para onde vai, nem pare para nada. Vá pela estrada do rio, pois ouvi dizer que tem um lobo muito mau na estrada da floresta, devorando quem passa por lá.
- Está bem, mamãe, vou pela estrada do rio, e faço tudo direitinho!
E assim foi. Ou quase, pois a menina foi juntando flores no cesto para a vovó, e se distraiu com as borboletas, saindo do caminho do rio, sem perceber.
Cantando e juntando flores, Chapeuzinho Vermelho nem reparou como o lobo estava perto...
Ela nunca tinha visto um lobo antes, menos ainda um lobo mau. Levou um susto quando ouviu:
- Onde vai, linda menina?
- Vou à casa da vovó, que mora na primeira casa bem depois da curva do rio. E você, quem é?
O lobo respondeu:
- Sou um anjo da floresta, e estou aqui para preteger criancinhas como você.
- Ah! Que bom! Minha mãe disse para não conversar com estranhos, e também disse que tem um lobo mau andando por aqui.
- Que nada - respondeu o lobo - pode seguir tranqüila, que vou na frente retirando todo perigo que houver no caminho. Sempre ajuda conversar com o anjo da floresta.
- Muito obrigada, seu anjo. Assim, mamãe nem precisa saber que errei o caminho, sem querer.
E o lobo respondeu:
- Este será nosso segredo para sempre...
E saiu correndo na frente, rindo e pensando:
(Aquela idiota não sabe de nada: vou jantar a vovozinha dela e ter a netinha de sobremesa ... Uhmmm! Que delícia!)
Chegando à casa da vovó, Chapeuzinho bateu na porta:
- Vovó, sou eu, Chapeuzinho Vermelho!
- Pode entrar, minha netinha. Puxe o trinco, que a porta abre.
A menina pensou que a avó estivesse muito doente mesmo, para nem se levantar e abrir a porta. E falando com aquela voz tão estranha...
Chegou até a cama e viu que a vovó estava mesmo muito doente. Se não fosse a touquinha da vovó, os óculos da vovó, a colcha e a cama da vovó, ela pensaria que nem era a avó dela.
- Eu trouxe estas flores e os docinhos que a mamãe preparou. Quero que fique boa logo, vovó, e volte a ter sua voz de sempre.
- Obridada, minha netinha (disse o lobo, disfarçando a voz de trovão).
Chapeuzinho não se conteve de curiosidade, e perguntou:
- Vovó, a senhora está tão diferente: por que esses olhos tão grandes?
- É prá te olhar melhor, minha netinha.
- Mas, vovó, por que esse nariz tão grande?
- É prá te cheirar melhor, minha netinha.
- Mas, vovó, por que essas mãos tão grandes?
- São para te acariciar melhor, minha netinha.
(A essa altura, o lobo já estava achando a brincadeira sem graça, querendo comer logo sua sobremesa. Aquela menina não parava de perguntar...)
- Mas, vovó, por que essa boca tão grande?
- Quer mesmo saber? É prá te comer!!!!
- Uai! Socorro! É o lobo!
A menina saiu correndo e gritando, com o lobo correndo bem atrás dela, pertinho, quase conseguindo pegar.
Por sorte, um grupo de caçadores ia passando por ali bem na hora, e seus gritos chamaram sua atenção.
Ouviu-se um tiro, e o lobo caiu no chão, a um palmo da menina.
Todos já iam comemorar, quando Chapeuzinho falou:
- Acho que o lobo devorou minha avozinha.
- Não se desespere, pequenina. Alguns lobos desta espécie engolem seu jantar inteirinho, sem ao menos mastigar. Acho que estou vendo movimento em sua barriga, vamos ver...
Com um enorme facão, o caçador abriu a barriga do lobo de cima abaixo, e de lá tirou a vovó inteirinha, vivinha.
- Viva! Vovó!
E todos comemoraram a liberdade conquistada, até mesmo a vovó, que já não se lembrava mais de estar doente, caiu na farra.

"O lobo mau já morreu. Agora tudo tem festa: posso caçar borboletas, posso brincar na floresta."

quarta-feira, 19 de março de 2008

Fábula: O Homem e a Cobra

Certo homem de bom coração encontrou na estrada uma cobra estanguida de frio.
- Coitadinha! Se fica por aqui ao relento, morre gelada.
Tomou-a nas mãos, aconchegou-a ao peito e trouxe-a para casa. Lá a pôs perto do fogão.

- Fica-te por aqui em paz até que eu volte do serviço à noite. Dar-te-ei então um ratinho para a ceia.
E saiu.
De noite, ao regressar, veio pelo caminho imaginando as festas que lhe faria a cobra.
- Coitadinha! Vai agradecer-me tanto...
Agradecer, nada! A cobra, já desentorpecida, recebeu-o de lingüinha de fora e bote armado, em atitude tão ameaçadora que o homem enfurecido exclamou:
- Ah, é assim? É assim que pagas o benefício que te fiz? Pois espera, minha ingrata, que já te curo...
E deu cabo dela com uma paulada.


Monteiro Lobato

segunda-feira, 17 de março de 2008

Lenda: A mulher da Meia Noite

A Mulher da Meia Noite, também Dama de Vermelho, Dama de Branco, é um mito universal. Ocorre nas Américas e em toda Europa.
É uma aparição na forma de uma bela mulher, normalmente vestida de vermelho, mas pode ser também de branco. Alguns dizem, que é uma alma penada que não sabe que já morreu, outros afirmam que é o fantasma de uma jovem assassinada que desde então vaga sem rumo.
Na verdade ela não aparece à meia-noite, e sim, desaparece nessa hora. Linda como é, parece uma jovem normal. Gosta de se aproximar de homens solitários nas mesas de bar. Senta com ele, e logo o convida para que a leve para casa.
Encantado com tamanha beleza, todos topam na hora. Eles caminham, e conversando logo chegam ao destino. Parando ao lado de um muro alto, ela então diz ao acompanhante:
_É aqui que eu moro...
É nesse momento que a pessoa se dá conta que está ao lado de um cemitério, e antes que possa dizer alguma coisa, ela desaparece, e nessa hora, o sino da igreja anuncia que é meia noite.
Outras vezes, ela surge nas estradas desertas, pedindo carona. Então pede ao motorista que a acompanhe até sua casa. E, mais uma vez a pessoa só percebe que está diante do cemitério, quando ela com sua voz suave e encantadora diz:
_É aqui que eu moro, não quer entrar comigo...?
Gelado da cabeça aos pés, a única coisa que a pessoa vê, é que ela acabou de sumir diante dos seus olhos, à meia-noite em ponto.

quarta-feira, 5 de março de 2008

Fábula: A Lebre e a Tartaruga

A lebre, muito gabola, vivia contando para todos que era o animal mais veloz do mundo. Por isso gostava da apostar corridas.
Dona Lebre já tinha nas corridas um casaco de peles da onça malhada e um pote de mel do amigo urso.
- Olhem só! Outro dia fiz uma corrida com o Sol e ganhei fácil. Ele até se escondeu, todo envergonhado, atrás de uma nuvem - disse a lebre.
- Corto minhas orelhas se alguém ganhar de mim. Desafio todos os animais da floresta - disse novamente a lebre.
A tartaruga, muito calma, aceitou o desafio:
- Aceito e darei a você a minha casa se eu perder.
O corredores dariam a volta ao redor da Floresta Encantada, voltando ao ponto de partida.
Partiram. A lebre correu como o vento e a tartaruga saiu lentamente.
Depois de algum tempo a lebre olhou para trás e, vendo que a tartaruga estava muito longe, resolveu tirar uma soneca.
Roncou . . . roncou . . . roncou . . .
A tartaruga muito lentamente passou . . . e ganhou a corrida.
Dizem que até hoje Dona Lebre corre muito porque tem medo de que a tartaruga corte suas orelhas.
Paciência vale mais do que pressa.